Ação Cultural para a Liberdade
Paulo Freire
(Links de terceiros, apenas indicamos)
A atualidade do pensamento freiriano se mostra a cada leitura, a cada
um dos muitos escritos que produziu ao longo de sua profícua,
radical e transformadora existência enquanto pessoa e educador.
Preocupado com as raízes, o meio sócio-cultural e econômico que abriga
os seres humanos, defende a condição de sujeito para que todos cheguem
a condição de cidadãos. Esse processo, como entende a educação, é
possível através da autonomia dos sujeitos e, sob esta ótica, li a
obra Ação cultural para a liberdade que apresenta uma
proposta de educação preocupada com o engajamento do sujeito em sua
realidade, em seu contexto, apreendendo-o e tornando-se capaz de, ao
criticá-lo, iniciar sua compreensão e transformação.
O processo educativo inicia com a tomada de consciência, por parte do
sujeito, da condição em que se encontra e na qual se encontram seus
semelhantes. Isso é estudar, porque, como Freire diz, “Estudar não é
um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las” (12) para
que se comprometam com a qualidade de vida dos seres humanos. Nesse
contexto, o educador, o trabalhador, o sujeito ou os sujeitos – assim
mesmo no plural, pois Paulo Freire vê a educação com ato coletivo,
solidário e não individualista – trabalham com, jamais sobre, os
indivíduos a quem considera sujeitos e não objetos de sua ação.
Assim, com humildade e criticidade não se pode jamais aceitar a
ingenuidade. Há que se ter posição crítica diante dos fatos, dos
acontecimentos, da vida, do mundo. A atitude do educador é uma ação
crítica de leitura do mundo que responde-se com ação solidária e
coletiva, visando a transformação.
Mais adiante, Freire aponta para uma “Pedagogia utópica da denúncia e
do anúncio” (60) como necessidade de ser ato de conhecimento da
realidade denunciada, uma ação cultural para a libertação. Em não se
verificando essa disposição radical, não há educação, na medida em que
educação só ocorre como compromisso com o cidadão, com o sujeito, com
a vida e, desse modo, educação já é ato transformador em sua
essência ao desacomodar as situações de ingenuidade e cegueira dos
sujeitos diante de sua realidade. A educação deve permitir ver,
entender e transformar as realidade individuais e sociais nas quais
os sujeitos se encontram. Na medida em que há esse reconhecimento,
ocorre a união dos dominados, não mais como minorias divididas entre
si e passa a existir também, o reconhecimento da identidade dos
interesses dos homens e mulheres que, na diversidade de suas
realidades, se percebem como companheiros de uma mesma jornada.
Educação é comunhão e como tal, “(...) característica fundamental da
ação ação cultural para a libertação” (81).
A partir de então é possível entender eficiência não mais na lógica
do neo-liberalismo como “(...) mero cumprimento, preciso e pontual,
das ordens que vêm de cima”, mas como identificada com a capacidade
que têm os seres humanos de pensar, de imaginar, de arriscar-se na
atividade criadora e transformadora do mundo, das relações e das
estruturas. Educar é transformar o ser humano, o indivíduo, o ser e,
com ele o mundo. É uma ação profunda porque cultural, não apenas
aparente, de modo individualizado e descontextualizado da realidade,
do meio, da vida. Nesse sentido, “(...) ninguém conscientizará
ninguém. O educador e o povo se conscientizam através do movimento
dialético entre a reflexão crítica sobre a ação anterior e a
subseqüente ação no processo (...)” (109).
O pensamento freiriano nos remete a dimensão política da educação
enquanto ação libertadora que não se limita a poupar os alunos dos
quadros negros à medida que lhes oferece projetores. Educação
libertadora é a que se propõe a contribuir para a libertação das
classes dominadas, porque “(...) é na intersubjetividade, mediatizada
pela objetividade, que minha existência ganha sentido” (115).
Intersubjetividade que se edifica com a existência coletiva e
expressa nas palavras: “O ‘eu existo’ não precede ao ‘nós existimos’,
se constitui nele” (115). É nessa medida que não há práxis autêntica
fora da unidade dialética da ação-reflexão, da prática-teoria, como
diz Freire. Então, conclui-se que a consciência não se transforma a não
ser na práxis e, daí também, que o conhecimento não se transfere, se
cria através da ação sobre a realidade. Portanto, “(...) a
transformação radical e profunda da educação, como sistema só se dá – e
mesmo assim não de forma automática e mecânica – quando a sociedade é
transformada radicalmente também” (146).
Educar está longe da acomodação e da atitude acomodativa pela ação
pedagógica. Educar é, desse modo, intrigar, desafiar, desacomodar,
incomodar. Educar é agir de modo desafiador e perturbador diante da
estrutura sócio-econômica e cultural da sociedade de privilégios que
vê o eu somente e, mesmo assim, não consegue atendê-lo em sua plenitude
por assumir uma fantasia do real descomprometendo-se com a vida, a
pessoa e a dignidade humana. Educar é comprometer-se com a vida.
Professora Vera Fátima Gobbi Cassol
Pós-Graduada em Literatura pela URI-FW
Ação Cultural para a Liberdade
Paulo Freire
(Links de terceiros, apenas indicamos)
A atualidade do pensamento freiriano se mostra a cada leitura, a cada
um dos muitos escritos que produziu ao longo de sua profícua,
radical e transformadora existência enquanto pessoa e educador.
Preocupado com as raízes, o meio sócio-cultural e econômico que abriga
os seres humanos, defende a condição de sujeito para que todos cheguem
a condição de cidadãos. Esse processo, como entende a educação, é
possível através da autonomia dos sujeitos e, sob esta ótica, li a
obra Ação cultural para a liberdade que apresenta uma
proposta de educação preocupada com o engajamento do sujeito em sua
realidade, em seu contexto, apreendendo-o e tornando-se capaz de, ao
criticá-lo, iniciar sua compreensão e transformação.
O processo educativo inicia com a tomada de consciência, por parte do
sujeito, da condição em que se encontra e na qual se encontram seus
semelhantes. Isso é estudar, porque, como Freire diz, “Estudar não é
um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las” (12) para
que se comprometam com a qualidade de vida dos seres humanos. Nesse
contexto, o educador, o trabalhador, o sujeito ou os sujeitos – assim
mesmo no plural, pois Paulo Freire vê a educação com ato coletivo,
solidário e não individualista – trabalham com, jamais sobre, os
indivíduos a quem considera sujeitos e não objetos de sua ação.
Assim, com humildade e criticidade não se pode jamais aceitar a
ingenuidade. Há que se ter posição crítica diante dos fatos, dos
acontecimentos, da vida, do mundo. A atitude do educador é uma ação
crítica de leitura do mundo que responde-se com ação solidária e
coletiva, visando a transformação.
Mais adiante, Freire aponta para uma “Pedagogia utópica da denúncia e
do anúncio” (60) como necessidade de ser ato de conhecimento da
realidade denunciada, uma ação cultural para a libertação. Em não se
verificando essa disposição radical, não há educação, na medida em que
educação só ocorre como compromisso com o cidadão, com o sujeito, com
a vida e, desse modo, educação já é ato transformador em sua
essência ao desacomodar as situações de ingenuidade e cegueira dos
sujeitos diante de sua realidade. A educação deve permitir ver,
entender e transformar as realidade individuais e sociais nas quais
os sujeitos se encontram. Na medida em que há esse reconhecimento,
ocorre a união dos dominados, não mais como minorias divididas entre
si e passa a existir também, o reconhecimento da identidade dos
interesses dos homens e mulheres que, na diversidade de suas
realidades, se percebem como companheiros de uma mesma jornada.
Educação é comunhão e como tal, “(...) característica fundamental da
ação ação cultural para a libertação” (81).
A partir de então é possível entender eficiência não mais na lógica
do neo-liberalismo como “(...) mero cumprimento, preciso e pontual,
das ordens que vêm de cima”, mas como identificada com a capacidade
que têm os seres humanos de pensar, de imaginar, de arriscar-se na
atividade criadora e transformadora do mundo, das relações e das
estruturas. Educar é transformar o ser humano, o indivíduo, o ser e,
com ele o mundo. É uma ação profunda porque cultural, não apenas
aparente, de modo individualizado e descontextualizado da realidade,
do meio, da vida. Nesse sentido, “(...) ninguém conscientizará
ninguém. O educador e o povo se conscientizam através do movimento
dialético entre a reflexão crítica sobre a ação anterior e a
subseqüente ação no processo (...)” (109).
O pensamento freiriano nos remete a dimensão política da educação
enquanto ação libertadora que não se limita a poupar os alunos dos
quadros negros à medida que lhes oferece projetores. Educação
libertadora é a que se propõe a contribuir para a libertação das
classes dominadas, porque “(...) é na intersubjetividade, mediatizada
pela objetividade, que minha existência ganha sentido” (115).
Intersubjetividade que se edifica com a existência coletiva e
expressa nas palavras: “O ‘eu existo’ não precede ao ‘nós existimos’,
se constitui nele” (115). É nessa medida que não há práxis autêntica
fora da unidade dialética da ação-reflexão, da prática-teoria, como
diz Freire. Então, conclui-se que a consciência não se transforma a não
ser na práxis e, daí também, que o conhecimento não se transfere, se
cria através da ação sobre a realidade. Portanto, “(...) a
transformação radical e profunda da educação, como sistema só se dá – e
mesmo assim não de forma automática e mecânica – quando a sociedade é
transformada radicalmente também” (146).
Educar está longe da acomodação e da atitude acomodativa pela ação
pedagógica. Educar é, desse modo, intrigar, desafiar, desacomodar,
incomodar. Educar é agir de modo desafiador e perturbador diante da
estrutura sócio-econômica e cultural da sociedade de privilégios que
vê o eu somente e, mesmo assim, não consegue atendê-lo em sua plenitude
por assumir uma fantasia do real descomprometendo-se com a vida, a
pessoa e a dignidade humana. Educar é comprometer-se com a vida.
Professora Vera Fátima Gobbi Cassol
Pós-Graduada em Literatura pela URI-FW
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